segunda-feira, 8 de junho de 2015

HYPATIA - A PRIMEIRA MULHER CIENTISTA NUM MUNDO DE HOMENS

Uma mulher superdotada numa época em que os homens, em nome do fanatismo religioso, estavam mais preocupados em esfaquear e apedrejar até à morte os descrentes e em sujeitar as mulheres à total submissão, é algo que tem os seus dissabores e perigos mortais.


A Escola de Atenas: famoso fresco do pintor renascentista Rafael. A cena pode ser vista numa das bibliotecas do Vaticano e nela encontra-se Hypatia, de pé e vestida de branco, a olhar diretamente, com altivez, para quem a visiona. Mais acima, Sócrates e Platão “entram” em cena.

A vida de Hypatia é digna de um filme, pelo que não foi de admirar que em 2009 este acabasse por chegar ao grande ecrã, através da super-produção “Ágora”. Uma excelente obra cinematográfica que, apesar de tudo, muito deixa por contar, ou então cai no velho pecado de exagerar os feitos da heroína. Fiquemo-nos, assim sendo, pelo que se conta nos velhos e poeirentos livros de história.



No longínquo ano de 355 (ou talvez 370, não existem certezas), nasceu na cidade de Alexandria a notável Hypatia. Filha de Téon, professor e último diretor da Biblioteca de Alexandria, foi educada por este para se tornar no protótipo da perfeição e da virtuosidade. Ou seja, aquilo que os homens de Alexandria não eram capazes de ser.

Mas a ascensão desta mulher prodígio chocava contra os preconceitos dos pais fundadores da filosofia racional helenística, dos quais era intelectualmente herdeira. Enquanto Platão, na sua máscula soberba, defendia que “a mulher, em relação à virtude, é naturalmente inferior ao homem”, Sócrates fazia render o poder do seu falo e afirmava que “a coragem do homem revela-se no comando, e a da mulher na obediência.”

Todavia, e fazendo gato-sapato desta verborreia machista, Hypatia acabou por exceder tudo e todos e tornar-se, na sua época, num dos nomes mais respeitados da matemática, astronomia e filosofia.






Entre os seus feitos incluem-se o aperfeiçoamento do astrolábio – um instrumento que mil anos depois ajudaria os portugueses a conquistar o globo pelos mares –, assim como um conjunto de textos nos quais explica, com extraordinária simplicidade, algumas das grandes (e complexas) ideias científicas e filosóficas do classicismo helénico. Para esta mulher, o conhecimento devia ser acessível a todos.

Dotada de uma oratória capaz de provocar dor de cotovelo a Winston Churchill, tornou-se professora de muitos jovens oriundos de famílias abastadas, e tal era o seu carisma que um dos pupilos apaixonou-se por ela, declarando-se-lhe com pompa e circunstância. A resposta de Hypatia a este gesto de amor até faria congelar o coração a Don Juan: atirou-lhe um lenço manchado com o sangue da sua menstruação e perguntou-lhe se era aquilo que ele queria desposar. cética e virgem, renunciaria até ao fim da sua vida a qualquer prazer carnal. O seu corpo deveria ser, portanto, da sua exclusiva propriedade.

Com o passar dos anos, os seus alunos tornaram-se nos homens mais poderosos de Alexandria. Um forte testemunho da influência que ainda detinha sobre estes era o facto de os magistrados da cidade recorrerem ao seu aconselhamento antes de tomarem qualquer decisão importante. Em pleno século IV, uma mulher ter tanto poder nas mãos era único.

Ignorância, fanatismo, crime e vingança



Mas os tempos eram perigosos e o ambiente social, político e religioso era demasiado volátil. Alexandria estava a tornar-se num fervilhante caldeirão de intolerância entre cristãos, judeus e devotos do politeísmo. Os distúrbios e massacres por motivos religiosos eram o pão-nosso de cada dia, com as tradições helenísticas a entrar em franca decadência. Aproveitando o caos, uma nova força começou a ganhar cada vez mais poder: o cristianismo.



Depois de ter enfrentado o machismo legado pelos pesos pesados da filosofia clássica, chegava a vez de Hypatia ter que lidar com a misoginia dos santos teólogos da igreja cristã. O próprio São Paulo, numa das suas epístolas, protestava: “não permito que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre os homens, mas que esteja em silêncio.” Prevendo dias difíceis, Hypatia decide arregaçar as mangas e usar a sua influência para combater o crescente poder dos intolerantes cristãos.

Muitas vezes violentos e invariavelmente adversos a que uma mulher lhes dissesse as verdades sem papas na língua, os cristãos de Alexandria eram liderados pelo patriarca Cirilo. Este tentava submeter à sua autoridade o prefeito de Alexandria, Orestes, um antigo aluno de Hypatia que continuava a estar sob a sua influência. Aliás, um dos mexericos correntes da época tagarelava que os dois seriam amantes.

O fato de o chefe político da cidade não se submeter às ordens de Deus tinha assim, para Cirilo, uma culpada: Hypatia. Ressabiado com a audácia de uma pagã que não tinha papas na língua, o patriarca decide fomentar os mais mesquinhos boatos para a afastar do seu caminho rumo ao poder.

Acusada em praça pública de ir contra os costumes morais daquilo que devia ser uma boa mulher temente a Deus, a cientista e filósofa foi igualmente acusada de ser uma bruxa, uma consequência infeliz de se ter profundos conhecimentos de astronomia e matemática numa época em que a ignorância grassava como se fosse a peste negra. Eis como acabou por tornar-se num alvo a abater pela turba dos fundamentalistas.

A tragédia é inevitável. Enquanto Hypatia circulava de carruagem pela cidade, uma milícia de fanáticos cristãos captura-a, arrastando-a pelo chão poeirento até uma das suas igrejas. No interior do santuário, a cientista é despida por mãos furiosas e cruelmente apedrejada até à morte. Insatisfeitos com a barbaridade, esfolam-na com lascas de vasos de cerâmica, arrancam-lhe os membros e lançam os seus pedaços a uma fogueira. Um fim pouco nobre que nem o cinema ousou revelar.

Orestes, vendo-se desamparado, foge da cidade. Cirilo, por sua vez, consegue submeter os políticos de Alexandria à sua vontade. Apesar de sempre ter negado qualquer responsabilidade na chacina de Hypatia, a verdade é que existe tudo para duvidar do lavar de mãos de um personagem que acabou por ser santificado pela igreja católica.

A morte de Hypatia, em 415, acabou por marcar o fim de uma era de racionalidade e conhecimento e a entrada na chamada “idade das trevas”. A ciência iria emudecer até ao Renascimento e a voz emancipada das mulheres por muito mais tempo.

Todavia, no século XVI, o pintor renascentista Rafael decidiu vingar o seu assassínio de forma bem peculiar. Enquanto ornamentava o tecto da sumptuosa biblioteca pessoal do Papa Júlio II, o mestre de Florença ousa pintar um fresco no qual Hypatia surge em posição central, por baixo das figuras de Platão e Aristóteles. Como seria de prever, o Sumo Pontífice odiou a ideia e proibiu que a imagem aparecesse.

No entanto, Rafael desobedeceu. Sorrateiramente, introduziu Hypatia na pintura, disfarçando-a noutra personagem. No fim, o destinou tornou-se em ironia, pois apesar ter sido condenada à morte por um patriarca cristão, a sua imagem observa até hoje, com um olhar directo e altivo, os líderes da igreja católica.





HYPATIA FOI A PRIMEIRA MULHER CIENTISTA NUM MUNDO DE HOMENS

Mas a ascensão desta mulher prodígio chocava contra os preconceitos dos pais fundadores da filosofia racional helenística, dos quais era intelectualmente herdeira. Enquanto Platão, na sua máscula soberba, defendia que “a mulher, em relação à virtude, é naturalmente inferior ao homem”, Sócrates fazia render o poder do seu falo e afirmava que “a coragem do homem revela-se no comando, e a da mulher na obediência.”

Todavia, e fazendo gato-sapato desta verborreia machista, Hypatia acabou por exceder tudo e todos e tornar-se, na sua época, num dos nomes mais respeitados da matemática, astronomia e filosofia.

O bispo Cirilo de Alexandria, o grande vilão do filme, está fielmente retratado e se fôssemos retroceder no tempo cerca de cem anos antes, teríamos ali, outro bispo de Alexandria, Atanasius, que atuava na mesma linha de Cirilo – e ambos são hoje santos da Igreja Católica. Recentemente, o ultra-conservador Bento XVI, referiu-se a São Cirilo, como “guardião da verdadeira fé”.   

Ágora (de Alejandro Amenábar) Trailer Legendado



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Sinopse: Alexandria, 391. Hypatia ensina astronomia, matemática e filosofia. Seu aluno Orestes está apaixonado por ela, assim como Davus, seu escravo pessoal. À medida que o Cristianismo da cidade, chefiado por Ammonius e Cyril, ganha poder político, as grandes instituições de aprendizagem e administração podem não sobreviver. 20 anos depois, Orestes, o prefeito da cidade, tem uma paz intranquila com os Cristãos, chefiados por Cyril. Os Cristãos forçam a moralidade pública; primeiro, vêm os Judeus como seu obstáculo, depois as mulheres. Hypatia não tem interesse na fé; está interessada nos movimentos dos corpos celestes e na irmandade de todos. Que lugar haverá para ela?

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Copie e cole no seu navegador para assistir o filme dublado pt em duas partes / Parte 1


http://www.dailymotion.com/video/x12j5g5_alexandria-parte-1-dublado-pt_shortfilms


Alexandria Parte 2 (FINAL) Dublado PT

http://www.dailymotion.com/video/x12j9bm_alexandria-parte-2-final-dublado-pt_shortfilms





 

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A Biblioteca de Alexandria - PARTE 1 e 2

Neste vídeo o astrônomo Carl Sagan, em uma pequena parte da sua aclamada série COSMOS, nos explica que foi aqui que a jornada da ciência começou de forma sistemática no ocidente. A Biblioteca de Alexandria no Egito foi uma das maiores bibliotecas do mundo antigo, foi fundada no início do século III a.C. Estima-se que a Biblioteca tenha armazenado mais de 400.000 rolos de papiro, podendo ter chegado a 1.000.000 nos seus 700 anos de existência.

A Biblioteca de Alexandria era o maior centro de conhecimento do planeta guardando um saber sem igual. Vinham sábios de todo o mundo para Alexandria e debatiam e estudavam os mais variados temas. Este clima de tolerância para com as outras culturas não voltaria a ser visto durante mais de 1500 anos. Em 391 d.C., durante o reinado do imperador Teodósio, a Biblioteca foi completamente destruída por um bispo cristão. Com a destruição deste grande centro de conhecimento a Humanidade ficou mergulhada numa Idade das Trevas durante os próximos 1000 anos seguintes. A lista dos grandes pensadores que frequentaram a biblioteca de Alexandria inclui nomes de grandes gênios do passado como Arquimedes, Euclides, Aristarco, Hipátia, Eratóstenes, Héron entre outros.


A Biblioteca de Alexandria - PARTE 2 de 2


Pesquisas República Ateia

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