quinta-feira, 17 de abril de 2014

Jesus imoral



Jesus imoral

Obviamente Jesus Cristo humano (se existiu) é muito mais avançado eticamente que o tirano sanguinário do antigo testamento. A questão é, será que ele é um exemplo de moralidade para seguirmos em nossa sociedade atual?
Começando com um ponto bom sobre a moralidade de Jesus é a regra de ouro que diz para não fazermos aos outros o que não gostaria que fizesse com você, com certeza isso é essencial para vivermos bem, porem antes de Jesus Cristo diversos pensadores já falavam sobre esse amor que transcende o próprio eu, como Zoroastro, Confúcio e Buda.
Muitas pessoas dizem que Jesus veio para mudar as leis.
Matheus 5-17 Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para aboli-las, mas sim para levá-las à perfeição. Pois em verdade vos digo: passará o céu e a terra, antes que desapareça um jota, um traço da lei. Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens, será declarado o menor do reino dos céus. Em Hebreus 10:28.Se alguém transgredir a Lei de Moisés - e isto provado com duas ou três testemunhas -, deverá ser morto sem misericórdia.
Realmente é muito contraditório, ele não veio para abolir as leis e sim leva-las a perfeição, em dizer que é errado apedrejar um pecador até a morte, ele não levou a perfeição ele simplesmente ignorou a lei, aboliu a lei, você pode aperfeiçoar, mas não mudará a essência, e ele mudou. Aperfeiçoar seria se ele falasse que só poderia ser apedrejado até a morte em alguns casos ou com determinadas provas, mas ele simplesmente diz que não deve apedrejar mais, ou seja, aboliu a lei ou você pode entender que o pecado cometido continua a ser um pecado, mas será perdoado, então ainda tem as mesmas idéias absurdas do seu pai referente a pecado. 

Não fica claro que leis devem ou não a serem seguidas do antigo testamento, como devem ser seguidas e o que seria esse aperfeiçoamento dele .Jesus não fez objeções contra escravidão, homofobia, machismo, discriminações, intolerância, violência entre outros, então não vejo nenhuma mudança significativa do antigo testamento.
Paulo diz para que os escravos servirem bem os seus senhores ainda mais se forem cristãos ou também em Lucas: 12:14: “E o servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites.”
 Podemos perceber que escravidão era algo normal naquela época mesmo para os apóstolos e seguidores de Cristo. Então entendemos que escravidão não seria antiético para Cristo.
Agora para demonstrar o machismo no novo testamento em Efésios 5 ¨Mulheres tem que serem submissas a seus maridos, como ao senhor.
Também em 1Timoteo 2, ¨a mulher ouça a instrução em silêncio, com espirito de submissão. Não permito a mulher que ensine nem que se arrogue autoridade sobre o marido, mas permaneça em silêncio não deve ensinar e nem ter autoridade sobre o marido e que fique em silêncio.
Jesus encorajava os discípulos a abandonar e odiar a família para segui-lo “Se alguém vem a mim e não odeia a seu pai, mãe, mulher, filhos, irmãos e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo, como as pessoas hoje em dia encarariam um cristão que larga e odeia sua família, esposa e filhos para andar perambulando pregando a palavra do evangelho e deixando sua esposa se virar com seus filhos? Esse pai não seria um bom exemplo para nossos padrões atuais.
Jesus era extremamente hostil com pessoas que não concordavam com ele, Jesus pregava aos Judeus e não aos gentios, Paulo que disseminou o cristianismo a fora, Jesus nunca teve a intenção disso. Como vários mandamentos da bíblia se referem apenas a Judeus, quando se diz amar o próximo, significa o próximo JUDEU, emprestar dinheiro e não cobrar juros de JUDEUS, até mesmo nas terríveis estórias do antigo testamento podemos perceber isso, onde Javé ordenava Josué, Saul e Moisés cometerem os assassinatos, deus nunca quis aliança entres os povos, mesmo que os outros povos quisessem  o seguir, deus mandava aniquilar tudo e todos, até os animais, crianças, idosos e cortar arvores (nada ecológico) apenas mulheres virgens que não. Percebe-se que o povo de deus era somente quem ele escolhia, ou seja, os judeus.
Em 2 Tessalonicenses 3 e 2º epistola de São João, Jesus diz para não receber em casa, não saudar quem não é cristão e para não se misturar. Mostrando como Jesus era discriminador e intolerante.
Passagem discriminatória como em 1:coríntios:11 que fala sobre o homem usar cabelo comprido e mulher cabelo curto ser pecado.
Mateus 10:34: “Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada.” Totalmente violento.
João 15:6: “Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem.”
João 3:18, Lucas 10:10-16, Apocalipse 21:8; deus castiga os que não crerem nele.
Mateus 10:14. Se não vos receberem e não ouvirem vossas palavras, quando sairdes daquela casa ou daquela cidade, sacudi até mesmo o pó de vossos pés.
10:15. Em verdade vos digo: no dia do juízo haverá mais indulgência com Sodoma e Gomorra que com aquela cidade.

Em Mateus 21:19 e Marcos 11:13-14, encontramos uma estória estranha por dois motivos: vemos Jesus tendo um acesso de raiva (algo que não era comum no comportamento do Filho de Deus) e também um castigo no mínimo estranho.
Na passagem, Jesus está caminhando e sente um pouco de fome. Ele então encontra uma figueira estéril e ordena que, mesmo que não seja capaz de dar frutos, a árvore passe a entregar figos imediatamente.
Sem ter qualquer resposta da árvore, ele então amaldiçoa o arbusto até a morte, mesmo que esse fosse apenas um objeto inanimado. Jesus era muito temperamental!
Sem falar nos evangelhos apócrifos que mostram um Jesus mágico transformando barro em pássaros, que matou seu amiguinho por ter esbarrado nele, Jesus era muito temperamental e com grandes problemas psicológicos.
Doenças como surdez, cegueira e doenças mentais são causadas por demônios - Mateus 12:22; Marcos 9:25 e Lucas 8:27, podemos ver nessa passagem a falta de conhecimento cientifico do filho do deus onisciente.
Em Lucas:9, discípulo de Jesus pede para enterrar seu pai antes de ir com Jesus, e Jesus nega dizendo que deixe que os mortos enterrem os mortos.
Baseando nessas passagens vemos como Jesus era intolerante com pessoas que não o seguiam e ainda ameaçava, equivalente a um religioso que hoje em dia te ameaça com fogo do inferno apenas por não acreditar no que ele acredita e um fundamentalista que acha que é o detentor da verdade absoluta e ignora os fatos. Se hoje em dia aparecesse um Jesus Cristo todo mundo veria ele como um maluco, porque nós evoluímos e não queremos nos prender mais em valores obsoletos de pessoas primitivas.
Existem muitas outras passagens da bíblia que evidenciam mais sua imoralidade, mas pararei por aqui.
Bom, se você realmente tem uma grande necessidade em seguir uma religião, escolha outra, judaísmo e cristianismo não são boas opções, existem melhores.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Dilúvio, Muita Água e Pouca Historicidade


Dilúvio, Muita Água e Pouca Historicidade

Por Octavio da Cunha Botelho Considerações iniciais


Dilúvio, um mito que é acreditado por muitos religiosos como evento histórico. A quantidade de narrativas sobre um dilúvio no passado é tão grande nos mitos religiosos, folclóricos e tradicionais, que um estudo que inclua todos eles parece uma tarefa impossível. Se forem somados os relatos curtos e as menções em trechos incluídos dentro de outros mitos maiores, em que alguns sobrevivem apenas em fragmentos ou em narrativas curtas e incompletas, muitas preservadas apenas oralmente, o número se torna ainda maior[1]. Entretanto, em meio a esta imensidão, se destacam pela extensão narrativa e pela influência cultural os relatos do dilúvio bíblico (o mito de Noé no Genesis do Antigo Testamento, na Bíblia Hebraica, nos apócrifos judaicos e no Alcorão)[2], as narrativas dos dilúvios mesopotâmico e sumério (o mito de Atrahasis, a tabuinha XI do Épico de Gilgamés, o Dilúvio Sumério e a narrativa do sacerdote Berossus no livro Babiloniaka)[3], o Dilúvio Grego (Deucalião e sua esposa Pirra sobrevivem ao dilúvio enviado por Zeus) relatado no Livro 1 do poema Metamorfoses de Ovídio e em outros textos da Mitologia Grega e o mito hindu de Matsya Avatara (o deus Vishnu encarnado como peixe), relatado no Matsya Purana, e em trechos do Satapatha Brahmana, do Mahabharata e do Bhagavata Purana (Tagare, 1987: 1116n e Noort, 1999: 01s). Com tantas narrativas de inundações no passado, fica conosco a curiosidade em saber o motivo por tanto interesse dos antigos por estas histórias catastróficas. Stephanie Dalley esclarece: “A história do Dilúvio foi um dos contos mais populares dos tempos antigos e é encontrada em diversas línguas, reelaborada para se ajustar a diferentes áreas e culturas, de maneira que diferentes contextos e detalhes são encontrados em cada versão” (Dalley, 2000: 01). Mais adiante ela complementa: “Todas estas histórias de dilúvios podem ser explicadas como derivadas de uma história mesopotâmica original, usada nos contos dos viajantes por mais de dois mil anos, através das grandes rotas de caravanas da Ásia Ocidental: estas foram traduzidas, enfeitadas e adaptadas aos gostos locais para criar uma multiplicidade de versões diferentes, um pouco das quais chegou até nós. Contudo, a possibilidade de diversas origens independentes não deve ser descartada, pois a ideia de um dilúvio universal pode ter surgido para explicar as observações, em diferentes locais, de fósseis marinhas em rochas bem acima do nível do mar. Em um tempo quando não havia a ideia de como as mudanças geológicas acontecem, tampouco a tão longa escala de tempo da evolução, ainda mais quando a criação do homem era geralmente suposta ter sido simultânea à criação da Terra em sua forma atual, um enorme dilúvio, no qual o homem acidentalmente sobreviveu, seria o único modo de explicar a presença de tais fósseis marinhas, e pode ter sido concebido por mais de uma única mente investigadora” (Dalley, 2000: 29). A explicação acima é a de que certas regiões foram inundadas por um grande dilúvio e, com o gradual declínio do nível da água, alguns animais marinhos morreram quando a água secou definitivamente. Isto é geologicamente confirmado em muitas regiões do planeta, daí a imaginação dos antigos foi levada a criar histórias que justificassem a presença desses vestígios fósseis. Por esta razão, o trecho final do título do presente estudo aparece como “pouca historicidade” ao invés de “nenhuma historicidade”, pois as narrativas mitológicas de um dilúvio reproduzem sempre um fenômeno natural acompanhado de uma causa cultural (moral e religiosa), este último não tem confirmação científica, enquanto o primeiro tem constatação histórica, sendo assim a historicidade confirmada apenas nos eventos naturais e não nos eventos culturais do dilúvio. E mesmo nas ocorrências naturais, os eventos não tiveram as proporções catastróficas da maneira relatada nos mitos religiosos. Enfim, os antigos revestiram os fenômenos naturais do dilúvio com um sentido religioso e uma narrativa dramática. Embora não existam registros que confirmem que os antigos tentaram justificar a presença de fósseis marinhas acima do nível do mar, através da criação de mitos diluvianos, a explicação acima parece ser a mais plausível dentre as tantas outras sugeridas pelos pesquisadores, quando comparada com as justificativas fantasiosas propostas pelos religiosos. O Dilúvio como fenômeno natural e as mudanças geológicas da Terra Kohrvirab O Monte Ararat na Turquia, local onde a Arca de Noé pousou quando as águas do Dilúvio baixaram, porém alguns sugerem que, na verdade, a região do Ararat corresponde à atual Armênia. Já aconteceram milhares de inundações em nosso planeta, agora uma de proporções globais é ainda objeto de discussão entre geólogos. Recentemente, pesquisadores australianos propuseram a hipótese de que há 2,5 bilhões de anos a Terra estava totalmente coberta pela água, mas não existiam ainda os peixes, somente bactérias e algas. A explicação é que, naquela época, o manto da Terra era bem mais quente do que o atual, o que fazia com que a crosta terrestre fosse mais fina, tornando as bacias dos oceanos mais rasas, daí cobrindo toda a superfície da Terra com água. À medida que o manto foi esfriando, em proporções desiguais, formaram-se bacias mais fundas e outras mais rasas, o que fez com que a superfície da Terra começasse a emergir, formando assim os oceanos, e na superfície do planeta os relevos, durante um período de mais de dois bilhões de anos (Langmuir, 2012: 205). Durante este longo período, muitas mudanças geológicas continuaram a acontecer na superfície terrestre, cujas regiões, então secas, se inundaram e regiões no fundo dos oceanos emergiram para a superfície, em virtude das contínuas movimentações das placas tectônicas. De modo que, as tantas descobertas de fósseis marinhas em regiões acima do nível do mar, até mesmo no alto de montanhas, são vestígios destes períodos de transformações geológicas, quando estas regiões estavam no fundo dos oceanos, antes de emergirem para a superfície. Portanto, em tempos quando não existia a Ciência da Geologia, os povos antigos que residiam em áreas constantemente inundadas ou não, encontraram somente uma explicação para a presença de fósseis marinhas em terras acima do nível do mar, a de que aconteceu um grande dilúvio no passado. Atualmente, uma sugestão discutida é a da Hipótese do Dilúvio do Mar Negro, proposta por William Ryan e Walter Pitman, em 1996 (com grande repercussão na mídia internacional), ambos da Universidade Columbia, a qual propõe que a inundação repentina e catastrófica da área do Mar Negro (Wilford, 1996), antes seca e povoada, através da súbita abertura de uma fenda no Estreito de Bósforo, que inundou a região do Mar Negro no ano 5.600 a.e.c., é a origem da história do dilúvio de Noé da Bíblia (Skeptic, 2000: 16). Pesquisas posteriores, por outros geólogos e arqueólogos, confirmaram que a área já foi seca e povoada, mas que a inundação não aconteceu subitamente, ou seja, ela ocorreu lentamente durante 30 mil anos, portanto sem o caráter catastrófico, tal como narrado na Bíblia. BlackSeaMap Gravura do Mar Negro, onde dois cientistas sugerem que seja a origem do Dilúvio Bíblico. Agora, o curioso é que muitos cristãos se aproveitam das comprovações da existência de inundações no passado para alegarem a historicidade do dilúvio bíblico. Com sensatez, é preciso separar bem definidamente uma inundação de caráter exclusivamente natural dos relatos de inundações (dilúvios) acompanhados de causas culturais (religiosas, morais, mitológicas, etc.), tais como nos inúmeros mitos existentes sobre estes eventos. A ocorrência de dilúvios na pré historia não é prova automática de que as narrativas, sobretudo as com o objetivo de exterminar os humanos e os animais, nos livros sagrados, recheadas de significados e de objetivos religiosos, sejam também eventos históricos. Enfim, o fenômeno natural do dilúvio é uma coisa, agora o envolvimento do dilúvio em um contexto cultural, atribuindo-lhe uma causa moral e religiosa, é outra coisa muito diferente. De modo que é desde a perspectiva de separação do caráter entre ambos os dilúvios que este estudo prosseguirá. O dilúvio desencadeado por uma causa cultural (dilúvio mitológico) Esta combinação de dilúvio natural com uma causa cultural é o conteúdo das narrativas de centenas de mitos sobre um grande dilúvio, de proporções universais, ocorrido em um passado distante, de muitas tradições do mundo. Quando estes mitos são incorporados aos cânones das religiões, os mesmos passam a ser percebidos como eventos históricos pelos seguidores, daí não são relatos fictícios, tal como os laicos entendem, senão considerados como doutrina religiosa, portanto tema de catequese. Para muitos cristãos, judeus e muçulmanos, os relatos do Dilúvio de Noé na Bíblia Cristã, na Bíblia Hebraica e no Alcorão respectivamente, são relatos acreditadamente históricos e fazem parte de suas concepções de como o mundo foi criado e recriado por deus. Um fato comum nos relatos da criação nos textos religiosos em geral é a simultaneidade da criação do homem e da Terra, ou seja, ambos foram criados no mesmo instante, de modo que o planeta foi criado em função do homem e para o homem, algo como o Princípio Antrópico. Não existe sequer um relato religioso da criação que atribui um longo período de existência da Terra antes do surgimento do homem, quanto mais ainda a menção de que se passaram bilhões de anos antes do aparecimento dos primeiros hominídeos, para depois então, de mais alguns milhões de anos, surgirem os primeiros homens modernos. Mais precisamente, a diferença é monstruosa, pois segundo a história natural, a Terra foi criada há cerca de 4,5 bilhões de anos e os primeiros homens modernos só vieram a aparecerem desde aproximadamente 50 mil anos, portanto o homem moderno existe desde um tempo ínfimo, quando comparado com o tempo de existência do nosso planeta (Langmuir, 2012: passim). Ademais, a afirmação de que a Terra foi criada em função do homem não tem mais sentido e veracidade na atual era das pesquisas dos exoplanetas (planetas extrassolares), ou seja, planetas que orbitam uma estrela fora do Sistema Solar, pois já foram confirmados cientificamente a existência de 1.779 exoplanetas até 14 de Março de 2014, e a suposição de muitos astrônomos é a da existência de bilhões. As causas dos dilúvios mitológicos (religiosos) Ed Noort observa: “Embora existam diversas tentativas de demonstrar a unidade das histórias do Dilúvio Bíblico, os argumentos resultantes não são convincentes” (Noort, 1999: 02). Portanto, antes de falar sobre o dilúvio bíblico é preciso informar sobre as fontes textuais que compõem o Gênesis (Bereshit para os judeus). Apesar dos esforços em contrário dos tradicionalistas, a grande maioria dos pesquisadores e dos historiadores está de acordo de que o livro do Gênesis é formado por três principais fontes mais antigas, conhecidas pelos autores de língua inglesa como fontes Jeovástica (J), Eloinista (E) e Priestly (P), esta última será traduzida aqui como Sacerdotal, “as quais foram cuidadosamente combinadas por um ou mais autores e depois acrescidas de algum material adicional, para então criar o livro do Gênesis” (Hendel, 2013, 17-8, ver também Noort, 1999: 02). Nos trechos relativos ao dilúvio, é possível identificar estas fontes, sobretudo quando tratando da causa da catástrofe. Neste último, observe que o trecho do Gênesis 06:05-7 corresponde à narrativa da causa para o Dilúvio extraída da fonte Jeovástica (J), enquanto que no trecho 6:11-13, o mesmo assunto da causa para a destruição das criaturas e da Terra é repetido em outras palavras, esta última é a justificativa para o Dilúvio extraída da fonte Sacerdotal (P). Um dos principais pontos que caracterizam cada uma das fontes é o respectivo emprego do nome de deus, na fonte Jeovástica (J), predomina o nome de Jeová para deus, enquanto na fonte Eloinista (E), o nome de deus como Eloim e na fonte Sacerdotal (P), uma combinação de ambas anteriores. Joseph Blenkinsopp menciona uma quarta fonte, conhecida pela sigla ‘D’ (Blenkinsopp, 2003: 181). O motivo destas diferentes fontes está no fato de que os textos foram compostos em regiões e épocas diferentes. matsya_avatar_of_lord_vishnu-wide Matsya Avatara, o deus Vishnu encarnado como peixe para auxiliar o sábio Manu a sobreviver a um grande dilúvio. Vejamos a justificativa para o envio do Dilúvio na redação de cada uma destas fontes. “Jeová viu que a maldade do homem era grande na Terra, e que todos os pensamentos de seu coração eram continuamente maus. Jeová arrependeu-se de ter criado o homem sobre a Terra e isto o aborreceu em seu coração. E Jeová disse: ‘Eu destruirei da superfície da Terra o homem que eu criei, homem e animal, os répteis e as aves do céu, eu me arrependo de os haver criado’. Mas, Noé encontrou graça nos olhos de Jeová” (Gênesis, 06:05-7). Este trecho é extraído da fonte Jeovástica (J). Logo em seguida no Gênesis, o mesmo assunto, mas extraído da fonte Sacerdotal (P). “A Terra estava corrompida diante de Eloim, e a Terra estava repleta de violência. E Eloim olhou para a terra, e a contemplou, ela estava arruinada, pois todas as criaturas tinham corrompido seu caminho sobre a Terra. E Eloim disse a Noé: ‘O fim de todas as criaturas chegou, pois a Terra está repleta de violência por causa delas. Eu as destruirei juntamente com a Terra’” (Gênesis, 06:11-3). Estas fontes textuais do Gênesis, bem como de todo o Pentateuco (Blenkinsopp, 2003: 181-8), somente são percebidas quando lidas no texto hebraico (Masorético), enquanto que, os trechos acima, quando lidos nas traduções grega (Septuaginta) e latina (Vulgata) não distinguem estas fontes, uma vez que os nomes divinos Jeová e Eloim são traduzidos como Theos, na versão grega (Septuaginta) e como Deus ou Dominus (Senhor) na versão latina, para todos os casos. Nas traduções para as línguas modernas, predominam os termos deus e senhor, de modo que também não é possível distinguir as fontes textuais do livro de Gênesis. A causa na Bíblia Quanto às causas, as narrativas das diferentes tradições (mesopotâmica, bíblica, muçulmana, grega e hindu) ora coincidem ora divergem. Na versão bíblica, a causa é a corrupção dos homens: “Jeová viu que a maldade do homem era grande na Terra” (Gên. 06:05), ou “A Terra estava corrompida diante de Eloim, e a Terra estava repleta de violência”. 06:11). Daí deus (Jeová ou Eloim) se arrependeu de ter criado os homens, em virtude da sua falta de previsibilidade, e então desabafou sua fúria através da insana decisão de destruir tudo, até mesmo as criaturas inocentes, quais sejam, os recém nascidos, as crianças, os idosos, os enfermos, os aleijados, os animais e os insetos. “Eu destruirei da superfície da Terra o homem que eu criei, homem e animal, os répteis e as aves do céu, eu me arrependo de os haver criado” (Gên. 06:07). Também: “O fim de todas as criaturas chegou, pois a Terra está repleta de violência por causa delas. Eu as destruirei juntamente com a Terra” (Gênesis, 06:13). Tal como em todos os outros mitos, onde a ênfase é sobre a lição moral e não sobre a reprodução da realidade, as incoerências são frequentes. No caso do Dilúvio Bíblico, as frases “o fim de todas as criaturas chegou” (Gên. 06:13), bem como “… e eu exterminarei da superfície da Terra todos os seres que eu fiz” (Gên. 07:04) não correspondem à realidade, uma vez que não é possível exterminar todas as criaturas do planeta através de um dilúvio, já que os peixes de água salgada e outros animais marinhos (baleias, tubarões, pinguins, focas, polvos, lulas, etc.) sobreviverão. Os peixes e animais de água doce certamente perecerão, visto que não conseguem sobreviver por muito tempo em água salgada, diante da predominância da maior quantidade de água salgada no planeta. Porém, os peixes de água salgada e os animais marinhos sobreviverão, ou mais precisamente, até engordarão, pois com a inundação, muitos outros animais serão lançados nas águas, inclusive humanos, o que, ao contrário, aumentará a disponibilidade de alimentos. Enfim, os tubarões seriam imensamente beneficiados. Ademais, qual a razão em exterminar os animais da superfície da Terra (poupando apenas um casal de cada espécie) e poupar os peixes, os tubarões, as baleias e todos os outros animais marinhos? As causas em outras tradições bsl_flood_tablet_channel_624x351 A tabuinha XI do Épico de Gilgamés em escrita cuneiforme, este trecho relata o Dilúvio Mesopotâmico. No poema Metamorfoses de Ovídio, o Dilúvio aconteceu em razão dos pecados dos homens. “… não só uma casa merece morrer, no mundo todo o pecado reina, com conspiração de crime. Logo, sobre todas elas minha sentença está mantida”. E mais adiante: “… uma punição diferente, enviar as chuvas para caírem de todas as direções do céu e em seu dilúvio afogar a raça humana” (Melville, 1998: 08). Enquanto que, em outras narrativas, a causa chega a ser cômica. Por exemplo, no mito de Atrahasis, o dilúvio é enviado em razão do barulho que a humanidade fazia, quando a população cresceu e passou a incomodar os deuses. “E o país tornou-se grande demais, as pessoas numerosas demais. O país era tão barulhento quanto um boi rugidor. O deus ficou impaciente como o barulho delas, Ellil tinha de ouvir o barulho delas. Ele dirigiu-se aos grandes deuses assim: ‘O barulho da humanidade tornou-se demais. Estou perdendo o sono com a balbúrdia dela…’” (Mito de Atrahasis, tabuinha II – Dalley, 2000: 20; Noort, 1999: 31 e Hendel, 2013: 28). Agora… os deuses incomodados com o baralho da humanidade, só mesmo na mitologia, pois, aqui no mundo real, só em filmes de comédia. Já no relato do Mahabharata, o Dilúvio acontece para que fosse possível iniciar um novo ciclo (Kalpa) da evolução humana. Enquanto que, no Alcorão, o Dilúvio é motivado pela descrença do povo: “Foi revelado a Noé, ‘Ninguém do seu povo acreditará, exceto aqueles que já acreditam, então não se aflijas com o que fazem. Construa a arca sob nossos olhos e com a nossa inspiração. Não argumente comigo em favor daqueles que têm feito o mal, eles serão afogados’” (Alcorão, 11:36-7 – Haleem, 2005: 138-9). Em outra passagem é dito que a causa foi que o povo não ouviu as pregações de Noé, conhecido como Nuh no Alcorão (sura 71). Noé (Nuh) disse: “Senhor meu, exortei meu povo dia e noite, mas quanto mais eu os exortava, eles se afastavam mais ainda” (Alcorão, 71:06). E Noé (Nuh) acrescentou em seguida: “Senhor, rebelaram-se contra mim e seguiram aqueles cujas riquezas e filhos somente servirão a apressar-lhes a perdição” (Alcorão, 71:21). Semelhanças entre o Dilúvio no Épico de Gilgamés e o Dilúvio Bíblico Os contos do Gênesis são derivados de tradições mais antigas, “transmitidos através de gerações, relatados pelos sacerdotes, pelos anciões, pelos viajantes e pelos poetas que eram as vozes autorizadas da tradição”. (…) “A maioria dos pesquisadores concorda que as versões bíblicas derivam das versões babilônicas, presumivelmente intermediadas pelas tradições orais, uma vez transmitidas ao solo israelita, (…) elas foram adaptadas à tradição israelita” (Hendel, 2013: 26). De maneira que a versão do Dilúvio na tabuinha XI da Versão Padrão do Épico de Gilgamés (cerca de 1100 a.e.c.) possui muitas similaridades com o Dilúvio Bíblico extraído da fonte J (Jeovástica). No Épico de Gilgamés, o sobrevivente do dilúvio é Utnapishtim, o qual também construiu uma arca, a qual pousou, após a diminuição do nível das águas, no monte Nimush, no norte da Mesopotâmia (Kovacs, 1989: 101 e Dalley, 2000: 114). No relato bíblico, o sobrevivente é Noé, sua arca pousou nas montanhas do Ararat[4] (Gênesis. 08:04). Já no Alcorão, “a arca pousou no monte Judi” (Alcorão 11:44 – Haleem, 2005: 139). Nos mitos hindus do dilúvio, o sobrevivente é Manu e sua embarcação pousou no topo de uma montanha nos Himalayas no relato do Mahabharata (Vana Parva, seção 186 – Ganguli, 1873-96: 376), enquanto que, nos relatos do Bhagavata Purana e do Matsya Purana, o evento ocorreu no sul da Índia (Tagare, 1987: 1116n). noe-sumer-gilgamesh-utnapishtim-543po Relevo reproduzindo Utnapishtim, o herói que sobreviveu ao Dilúvio Mesopotâmico no Épico de Gilgamés Logo antes da passagem do épico Mahabharata mencionada acima existe um trecho que, em vista do exagero anacrônico, chega parecer cômico na tradução de Ganguli: “… jogada pela tempestade sobre o oceano, a embarcação rodopiava como uma prostituta bêbada. E, nem terra, nem os quatro pontos cardeais da bússola podiam ser percebidos” (Ganguli, 1873-96: 375). Bem, se não bastasse a comicidade do exemplo da prostituta bêbada, a menção de uma bússola em um evento que aconteceu no Kalpa (ciclo) passado é um anacronismo monstruoso, uma vez que um Kalpa corresponde a mil Yugas, ou seja, a 4,32 milhões de anos (Stutley, 1977: 139). Não existiam ainda os humanos modernos na Terra nesta época, somente hominídeos, portanto mais absurdo ainda a existência de uma bússola, a qual foi inventada na China no século III a.e.c., como instrumento de adivinhação, para então passar a ser utilizada como instrumento de navegação somente a partir do século XI e.c. pelos chineses.[5] Pela passagem acima é possível vislumbrar que, quanto à cronologia da criação, a versão do Hinduísmo é o contrário das versões das religiões bíblicas (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo), quando comparados aos conhecimentos da história natural e científica, pois enquanto as cronologias bíblicas exageram na recentidade da criação da Terra e da humanidade, o Hinduísmo, por seu lado, exagera na antiguidade, em comparação com as datações das Ciências atuais. Outras passagens semelhantes são os episódios quando termina o Dilúvio e as águas começam a baixar. Na tabuinha XI do Épico de Gilgamés, Utnapishtim soltou três aves para checarem se a Terra já estava seca, uma pomba, uma andorinha e por último um corvo, os dois primeiros retornam para a arca e a terceira ave não retorna, sinalizando que as águas já tinham baixado (Kovacs, 1989: 102 e Dalley, 2000: 114). Na narrativa bíblica, Noé soltou primeiro um corvo, o qual retornou logo em seguida por não ter encontrado onde pousar. Em seguida soltou uma pomba, esta também não encontrando onde pousar retornou para a arca. Depois de sete dias soltou a pomba novamente, esta, desta vez, retornou trazendo uma folha verde de oliveira. Esperou mais sete dias para soltar a pomba novamente, desta vez ela não retornou, constatando que a Terra já estava seca (Gênesis 8:06-12 e Hendel, 2013: 26-8). A rigor, não eram necessários os envios das aves para verificar se a Terra já estava seca, bastava abrir a janela da arca e olhar para checar, já que as arcas (de Utnapishtim e de Noé) estavam pousadas no topo de montanhas (Numish e Ararat respectivamente), portanto a visibilidade era panorâmica. Entretanto, uma vez que os mitos, em muitas de suas passagens importantes, enfatizam mais o embelezamento poético e dramático, do que o relato frio da realidade, este episódio ficou poeticamente mais comovente com este recurso retórico. Diferenças entre o Dilúvio Bíblico e o Dilúvio Alcorânico Diferente da narrativa bíblica, a sura 11 (Hud) do Alcorão deixa uma pista de que o Dilúvio não foi generalizado, mas somente na região onde residia Nuh (Noé), pois em uma passagem, logo após o Dilúvio, é dito que Hud (neto ou bisneto de Noé, as fontes islâmica divergem sobre o grau de descendência, o qual talvez estivesse na arca) é enviado ao povo Ad para pregar (Alcorão, 11:50). Outras diferenças são quanto ao número de pessoas na arca. No Alcorão, um número bem maior de pessoas ocupa a arca, enquanto na Bíblia, somente os familiares de Noé, bem como o número de animais no Alcorão é menor, somente os animais domésticos de Nuh (Noé). Também, no Alcorão, um quarto filho de Nuh (Noé), cujo nome não é conhecido, é mencionado como se recusando a entrar na arca e acaba morrendo afogado (11:43). Depois deus revela a Nuh (Noé) que este seu filho era um descrente, por isso foi castigado (11:46). Também, em outra sura, a mulher de Nuh (Noé) é mencionada como uma descrente e foi então enviada para o inferno (66:10). Ademais, enquanto Nuh (Noé) construía a arca, seus concidadãos zombavam dele, provocação esta que Nuh respondia com uma cruel ameaça: “Zombai de nós, zombaremos de vós da mesma forma. Em breve sabereis sobre quem cairá um castigo que o aviltará e não mais o abandonará” (11:38-9). Existe um número maior de informações sobre Nuh (Noé) e o Dilúvio, desde o ponto de vista islâmico, em outros textos da tradição muçulmana, conhecidos como Hadiths, os quais divergem ainda bem mais da narrativa bíblica (ver: Brinner, 2002: 92s). Considerações finais Existe, óbvio, uma diferença muito grande em considerar o Dilúvio como um mito ou, por outro lado, considerá-lo como um fato histórico, tal como acreditam os cristãos, os judeus, os muçulmanos, etc. Diante de tal crença, os céticos reúnem e apresentam argumentos científicos a fim de demonstrar a impossibilidade meteorológica, geológica e física de um dilúvio sobre a Terra, por meio de uma grande chuva. Dos argumentos, os mais evidentes comprovam que não existe água suficiente no planeta para cobrir toda a superfície seca, sobretudo as áreas mais altas, uma vez que a água a ser utilizada para tal chuva torrencial é a dos oceanos, dos lagos e dos rios, portanto a água que precipitará sobre a Terra é a mesma que será evaporada, de modo que o volume de água continuará sempre o mesmo, ou seja, o ciclo de evaporação e de precipitação de chuvas continuará sempre com a mesma quantidade de água disponível para este processo. Então, para que seja possível uma inundação global, as duas possibilidades mais viáveis são, primeiramente, um deslocamento geral das placas tectônicas da Terra, de maneira que toda a crosta terrestre se alinhasse no mesmo nível, assim os oceanos ficariam mais rasos, projetando suas águas sobre a superfície seca e, simultaneamente, a superfície seca baixasse o seu nível, permitindo assim que as águas a inundassem, tal como alguns geólogos acreditam que já aconteceu há bilhões de anos. A outra é com o recebimento de mais água de fora do planeta, tal como a colisão com um cometa gigante, portador de muito gelo, ou com muitos cometas com a mesma característica gelada. Outra ainda, porém parcial, poderá ser com o aquecimento global, o qual derreterá as geleiras dos polos e daí inundará as áreas costeiras dos continentes e cobrirão algumas ilhas. Enfim, somente através de chuvas, com água da própria Terra, é fisicamente impossível um dilúvio global. Obras consultadas BLENKINSOPP, Joseph. The Pentateuch em The Cambridge Companion to the Biblical Interpretation, John Barton (ed.). Cambridge: Cambridge University Press, 2003, p. 181-97. BRINNER, Willian M. (tr.). Ar’ls Al-majalis Fi Qisas Al-Anbiya, or Lives of the Prophets. Boston/Leiden: Brill Publishers, 2002, p. 92-104. CORY, I. P. (tr.). The Ancient Fragments. London: William Pickering, 1878, p. 24-31. DALLEY, Stephanie (tr.). Myths from Mesopotamia: Creation, the Flood, Gilgamesh and Others. Oxford: Oxford University Press, 2000. EGGELING Julius (tr.). The Satapatha Brahmana (Sacred Books of the East vol. 12), part 01. Delhi: Motilal Banarsidass Publishers, 1993, p. 216-30. ETCSL Project. The Flood Story. Faculty of Oriental Studies, University of Oxford, 2006: http://etcsl.orinst.ox.ac.uk/cgi-bin/etcsl.cgi?text=t.1.7.4#. GANGULI, Kisari Mahan (tr.). The Mahabharata, Book 3 – Vana Parva, 1873-96, p. 374-6, digital edition: http://www.sacred-texts.com/hin/m03/m03186.htm HALEEM, M. A. S. Abdel (tr.) The Qur’an. New York/Oxford: Oxford University Press. 2005. HENDEL, Ronald. The Book of Genesis: A Biography. Princeton: Princeton University Press, 2013, p. 17s. KOVACS, Maureen Gallery (tr.). The Epic of Gilgamesh. Stanford: Stanford University Press, 1989, p. 97-108. LANGMUIR, Charles and Wally Broecker. How to Build a Habitable Planet: The Story of Earth from Big Bang to Humankind. Princeton: Princeton University Press, 2012. LEWIS, Jack P. A Study of the Interpretation of Noah and the Flood in Jewish and Christian Literature. Leiden: E. J. Brill, 1978. LUTTIKHUIZEN, Gerard P. Biblical Narrative in Gnostic Revision: The Story of Noah and the Flood in Classic Gnostic Mythology em Interpretations of the Flood. Boston/Leiden: Brill Publishers, 1999, p. 109-23. MELVILLE, A. D. (tr.). Metamorphoses. Oxford: Oxford University Press, 1998, p. 09-14. NOORT, Ed. The Stories of the Great Flood: Notes on Gen 6:5 – 9:17 in its Context of the Ancient Near East em Interpretations of the Flood. 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At Risk: Natural Hazards, People’s Vulnerability and Disasters. London/New York: Routledge, 2004, p. 201-42. Notas [1] Para conhecer uma extensa lista com resumos de antigos relatos de dilúvios, visitar: “Floods Stories from Around the World”: http://www.talkorigins.org/faqs/flood-myths.html [2] Também, trechos de alguns manuscritos gnósticos encontrados em Nag Hammadi mencionam Noé e o Dilúvio, mostrando que os gnósticos tinha sua própria versão do Dilúvio, porém nenhum texto tratando somente deste assunto e tampouco um trecho extenso foram encontrados (Luttikhuizen, 1999: 109-23). [3] Atrahasis é o herói que sobreviveu ao Dilúvio nos relatos mesopotâmicos (Dalley, 2000: 04-8 e 29-35). No Épico de Gilgamés ele recebeu o nome de Utanapishtim (Kovacs, 1989: 97-108 e Daley, 2000: 109-20), na Narrativa Suméria ele é conhecido como Ziusudra ou Zi-ud-sura (ETCSL Project, 2006) e no relato do sacerdote Berossus (Cory, 1878: 24-31), o rei sobrevivente do Dilúvio foi Xisuthrus (Noort, 1999: 01-2 e Dalley, 2000: 01). Alguns autores apontam que Xisuthrus é a grafia helenizada de Ziusudra. [4] O monte Ararat é geralmente reconhecido hoje como estando na atual Turquia, com o tempo se transformou até em ponto turístico, no entanto, alguns pesquisadores sugerem que a região do Ararat, mencionada na Bíblia, corresponde à atual Armênia. Recentemente, os jornais noticiaram a ocorrência de mais uma fraude, ou seja, mais uma descoberta, desta vez por historiadores chineses, de grandes fragmentos de uma embarcação no monte Ararat. Porém, pelo vídeo é possível perceber que se trata de uma fraude muito amadora, através de truques de montagem e de edição. Especialistas desconfiaram que a fraude foi criada para aumentar o turismo na região. [5] Se forem verdadeiros os relatos, foi Marco Polo quem fez a bússola ser conhecida na Europa no século XIII e.c., trazida da China. Seus relatos estão envolvidos em muitas lendas.

terça-feira, 8 de abril de 2014

O que Substituiria a Bíblia como um Guia Moral?

O que Substituiria a Bíblia como um Guia Moral?


Perguntam-me o que “substitui a Bíblia como guia moral”.

Sei que muitas pessoas têm a Bíblia como o único guia moral e acreditam que somente nesse livro se encontra o verdadeiro e perfeito padrão de moralidade.

Existem muitos preceitos bons, muitos provérbios sábios e muitas regras e leis excelentes na Bíblia — mas estão misturados com preceitos péssimos, provérbios tolos, regras absurdas e leis cruéis.

Porém, temos de nos lembrar que a Bíblia é uma coleção de muitos livros escritos durante séculos, e que representa e conta, em parte, o desenvolvimento e a história de um povo. Precisamos nos lembrar também que seus escritores tratam de uma ampla variedade de assuntos. Muitos desses escritores não têm nada a declarar sobre o certo e o errado, sobre o vício e a virtude.

O livro do Gênesis não contém nada sobre moralidade. Não há nele nenhuma linha calculada para iluminar o campo de nossa conduta. Ninguém pode chamar este livro de um guia moral. Ele constitui-se de mitos e milagres, de tradição e lenda.

No livro do Êxodo encontramos uma explicação de como Jeová libertou os judeus da escravidão dos egípcios.

Nós atualmente sabemos que os judeus jamais foram escravizados pelos egípcios, que a história toda é uma ficção. Nós sabemos disso porque não há no hebraico qualquer palavra de origem egípcia, e não foi encontrada na língua egípcia qualquer vocábulo de origem hebraica. Assim sendo, inferimos que os hebreus e os egípcios não poderiam ter convivido durante séculos.

Certamente o livro do Êxodo não foi escrito para ensinar moralidade. Neste livro é impossível encontrar qualquer palavra contra a escravidão humana. De fato, Jeová era conivente a esta instituição.

A matança do gado com peste e granizo, o assassinato dos primogênitos — de modo que em todos os lares houve morte porque o rei recusou-se a deixar os hebreus partirem — certamente não foi algo moralmente correto: foi algo demoníaco. O autor deste livro considerava todo o povo do Egito — suas crianças, suas manadas e seus rebanhos — como propriedades do Faraó. Esse povo e esse gado foram mortos, não porque fizeram algo de errado, mas simplesmente com o objetivo de punir o rei. É possível extrairmos alguma lição moral desta história?

Todas as leis encontradas no Êxodo — incluindo os Dez Mandamentos —, que estão tão longe do que é realmente bom e sensato, estavam naquele tempo sendo impostas à força a todos os povos do mundo.

O assassinato é, e sempre foi, um crime, e sempre o será enquanto a maioria da população negar-se a ser assassinada.

A diligência sempre foi e sempre será a inimiga do latrocínio.

A natureza do homem é tal que ele admira aquele que diz a verdade e despreza o mentiroso. Entre todas as tribos, entre todos os povos, o “dizer a verdade” tem sido considerado uma virtude, e um juramento ou pronunciamento falsos, um vício.

O amor dos pais pelos filhos é natural, e este amor pode ser encontrado entre todos os animais vivem. Deste modo, o amor dos pais pelos filhos é natural — não foi e não pode ser criado por lei. O amor não surge do senso de dever e tampouco floresce curvado em obediência a comandos.

Assim, neste sentido, os homens e as mulheres não são virtuosos por causa de algum livro ou de alguma crença.

De todos os Dez Mandamentos, os que eram bons eram antigos, eram resultado da experiência. Os mandamentos originais de Jeová eram tolos.

A adoração “qualquer outro Deus” não poderia ter sido pior do que a adoração de Jeová, e nada poderia ser mais absurdo do que a santidade do Sabá.

Se os mandamentos concedidos fossem contra a escravidão e a poligamia, contra guerras de invasão e extermínio, contra a perseguição religiosa sob todas as formas, de modo que o mundo pudesse ser livre, de modo que a mente pudesse ser desenvolvida e o coração civilizado, então poderíamos, com propriedade, chamar tais mandamentos de um “guia moral”.

Antes de podermos dizer que os Dez Mandamentos constituem realmente um guia moral, devemos adicionar e subtrair alguns deles — devemos jogar alguns fora e escrever outros em seus lugares.

Os mandamentos que possuem alguma aplicação conhecida aqui, neste mundo, que tratam de compromissos humanos, são sábios; os outros não se fundamentam em fatos ou experiências.

Muitos dos regulamentos encontrados no Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio são bons. Entretanto, muitos são absurdos e cruéis.

As cerimônias de adoração são completamente insanas.

A maior parte das punições prescritas para violações de leis são irracionais e brutais. O fato é que o Pentateuco justifica praticamente todos os crimes, e chamá-lo de um guia moral é tão absurdo quanto dizer que ele é misericordioso ou verdadeiro.

Nenhuma moral natural pode ser encontrada em Josué ou em Juízes. Estes livros estão repletos de crimes — com massacres e assassinatos. Em boa parte, são como a história real dos índios Apache.

A estória de Rute não é particularmente moral.

Em Samuel I e II não há uma palavra calculada para desenvolver o cérebro ou a consciência.

Jeová matou setenta mil de judeus porque Davi fez um censo do povo. David, segundo o relato, era o único culpado, porém somente inocentes foram mortos.

Em Reis I e II não pode ser encontrada qualquer coisa de valor ético. Todos os reis que se recusaram a obedecer aos sacerdotes foram denunciados, e todos os vilões coroados que ajudaram os sacerdotes foram declarados como os favoritos de Jeová. Nestes livros não se pode encontrar uma única palavra em favor da liberdade.

Há alguns Salmos bons e alguns infames. A maioria dos Salmos é egoísta. Muitos deles são apelos passionais à vingança.

A história de Jó choca o coração de qualquer homem de boa índole. Neste livro há alguma poesia, algum sentimento e alguma filosofia, mas a história deste drama chamado Jó é desalmada ao mais alto grau. As crianças de Jó foram assassinadas devido a uma pequena aposta entre Deus e o Diabo. Posteriormente, tendo Jó permanecido firme, outras crianças foram colocadas no lugar das assassinadas. Todavia, nada foi feito pelas crianças que foram assassinadas.

O livro de Éster é completamente absurdo, e a única coisa boa nele é o fato de que o nome de Jeová não é mencionado.

Aprecio o Cântico dos Cânticos porque fala sobre o amor humano, e isso é algo que posso compreender. A meu ver, este livro é melhor que todos aqueles que o precedem e, de longe, é um guia moral superior.

Há alguns provérbios sábios e compassivos. Alguns são egoístas e outros são superficiais e triviais.

Gosto do livro de Eclesiastes porque lá podemos encontrar alguma sensatez, alguma poesia e alguma filosofia. Excetuando-se as interpolações, trata-se de um bom livro.

Obviamente, não há nada em Neemias ou Esdras para tornar o homem melhor; não há nada em Jeremias ou em Lamentações cujo objetivo é atenuar vícios, e somente poucas passagens de Isaías podem ser utilizadas em prol boas causas.

Em Ezequiel e Daniel encontramos somente delírios de insanos.

Em alguns dos profetas menores, aqui e acolá encontramos um bom verso, aqui e acolá um pensamento elevado.

Podemos, através de uma seleção de trechos de diferentes livros, obter uma crença excelente. Entretanto, através de uma seleção de trechos de outros livros, podemos obter uma péssima crença.

O problema é que o espírito do Velho Testamento — sua disposição, seu temperamento — é maldoso, egoísta e cruel. As coisas mais atrozes comandadas, recomendadas e aplaudidas.

As estórias contadas de José, de Eliseu, de Daniel e de Gideão — e de muitos outros — são hediondas, diabólicas.

Na sua íntegra, o Antigo Testamento não pode ser considerado um guia moral.

Jeová não foi um Deus moral. Ele possuía todos os vícios e carecia de todas as virtudes. Ele geralmente executava suas ameaças, mas nunca cumpriu fielmente uma promessa.

Ao mesmo tempo, devemos ter em mente que o Antigo Testamento é uma produção natural, que foi escrito por selvagens que estavam caminhando, lentamente, em direção à civilização. Devemos dar-lhes crédito pelas coisas nobres que disseram e devemos ser compreensivos o suficiente para desculpá-los por suas faltas, e mesmo pelos seus crimes.

Sei que muitos cristãos consideram o Velho Testamento como o “alicerce” e o Novo como a “superestrutura”. Por outro lado, muitos admitem que há falhas e erros no Antigo Testamento, mas insistem que o Novo Testamento é uma flor, um fruto perfeito.

Admito que há muitas coisas boas no Novo Testamento e, se retirarmos deste livro os dogmas da dor eterna, da vingança infinita, da expiação, do sacrifício humano, da necessidade de derramamento de sangue; se colocarmos de lado a doutrina da não-resistência — de amarmos os inimigos —, se colocarmos de lado a ideia de que a prosperidade é consequência da perversão, que a miséria é uma preparação para o Paraíso. Enfim, se deixarmos isso tudo para trás e selecionarmos apenas as passagens sensatas e bondosas, que são aplicáveis à nossa conduta, então poderíamos construir um guia moral razoavelmente bom — estreito e limitado, mas moral.

Neste caso, evidentemente, muitas coisas importantes ficariam de fora. Não haveria qualquer coisa quanto aos direitos humanos, nada em favor da família, nenhuma palavra sobre a educação, nada em favor do espírito investigativo, do pensamento e da razão — mas, ainda assim, teríamos um guia moral razoável.

Por outro lado, se selecionarmos apenas as passagens tolas — as mais extremas —, então poder-se-ia construir uma doutrina capaz satisfazer um manicômio inteiro.

Se pegarmos as passagens cruéis, os versos que inculcam o ódio eterno, os versos que rastejam e sibilam como serpentes, então poder-se-ia construir um doutrina que chocaria até o coração de uma hiena.

Talvez nenhum livro contenha passagens melhores que as do Novo Testamento — mas certamente nenhum livro contém piores.

Sob o desabrochar da flor do amor encontra-se o aguilhão do ódio; nos lábios que beijam encontra-se o veneno da serpente.

A Bíblia não é um guia moral.

Qualquer homem que seguir fielmente todos os seus ensinamentos é um inimigo da sociedade — e provavelmente irá terminar seus dias numa prisão ou num manicômio.

Que é moralidade?

Neste mundo, precisamos de certas coisas. Possuímos muitos desejos. Somos expostos a muitos perigos. Precisamos de alimento, combustível, vestimentas e abrigo; além desses desejos, há o que poderíamos denominar nossa “fome mental”.

Somos seres condicionados e, por isso, nossa felicidade depende de condições. Há coisas que reduzem e há coisas que aumentam nosso bem-estar. Há certas coisas que o destroem e outras que o preservam.

A felicidade — também em suas formas mais elevadas — é, em última instância, a única coisa boa. Portanto, todas as coisas cujo objetivo é produzir ou assegurar a felicidade são boas, ou seja, morais. Tudo que destrói ou diminui o bem-estar é ruim, ou seja, imoral. Em suma, tudo que é bom é moral, tudo que é ruim é imoral.

Então o que é — ou poderia ser denominado — um guia moral? A resposta mais curta possível consiste de apenas uma palavra: inteligência.

Queremos a experiência da humanidade, a verdadeira história de nossa raça. Queremos a história do desenvolvimento intelectual, do fortalecimento da ética, da ideia de justiça, da consciência, da caridade, do altruísmo. Almejamos conhecer as estradas e os caminhos que foram percorridos pela mente humana.

Esses fatos em geral, o esboço dessas histórias, os resultados obtidos, as conclusões alcançadas, os princípios envolvidos — tudo isso, tomado em conjunto, consistiria no melhor guia moral concebível.

Não podemos nos apoiar nos assim chamados “livros inspirados” ou nas religiões do mundo. Estas religiões são fundamentadas no sobrenatural e, de acordo com elas, estamos obrigados a adorar e a obedecer algum ser ou seres sobrenaturais. Todas essas religiões são incompatíveis com a liberdade intelectual. São inimigas do pensamento, da investigação, da honestidade intelectual. Elas despojam do homem sua própria humanidade. Prometem recompensas eternas para a crença, para credulidade — para aquilo que denominam “fé”.

Essas religiões ensinam virtudes que escravizam. Transformam coisas inanimadas em coisas sagradas e falsidades em dogmas sacrossantos. Criam crimes artificiais: comer carne na sexta-feira, divertir-se aos sábados, comer nos dias de jejum, ser feliz na Quaresma, debater com um sacerdote, buscar evidências, rejeitar uma crença, expressar seu pensamento honestamente — todos esses atos são pecados, são crimes contra algum deus. Emitir sua opinião sincera sobre Jeová, Maomé ou Cristo é muito pior do que caluniar maliciosamente seu próximo. Questionar ou duvidar de milagres é muito pior do que rejeitar fatos conhecidos.

Somente os obedientes, os crédulos, os bajuladores, os ajoelhadores, os submissos, os que não questionam — os verdadeiros crentes —, são considerados morais, virtuosos. Não basta ser honesto, generoso e prestativo; não basta seguir as evidências, os fatos. Além disso, é necessário crer. Essas doutrinas são inimigas da moralidade, elas subvertem todas as concepções naturais de virtude.

Todos os “livros inspirados”, ensinando que os mandamentos sobrenaturais são corretos — corretos porque foram ordenados —, ensinando que aquilo que o sobrenatural proíbe é errado — errado porque foi proibido —, são absurdamente antifilosóficos.

E todos os “livros inspirados”, ensinando que somente aqueles que obedecem aos mandamentos sobrenaturais são — ou podem ser — verdadeiramente virtuosos, e que uma fé inquestionada será recompensada com a eterna bem-aventurança, são grosseiramente imorais.

Declaro novamente: a inteligência é o único guia moral.

Robert G. Ingersoll