Moisés pode não ter
existido, sugere pesquisa arqueológica
Escavações e
inscrições mostram que povo de Israel se originou dentro da Palestina.
História sobre
libertação do Egito teria influência de interesses políticos posteriores.
A saga de Moisés, o profeta que teria arrancado seu povo da
escravidão no Egito e fundado a nação de Israel, tem bases muito tênues na
realidade, segundo as pesquisas arqueológicas mais recentes. É praticamente
certo que, em sua maioria, os israelitas tenham se originado dentro da própria
Palestina, e não fugido do Egito.
É verdade que as opiniões dos pesquisadores divergem sobre
os detalhes específicos do Êxodo (o livro bíblico que relata a libertação dos
israelitas do Egito) que podem ter tido uma origem em acontecimentos reais.
Para quase todos, no entanto, a narrativa bíblica, mesmo quando reflete fatos
históricos, exagera um bocado, apresentando um cenário grandioso para ressaltar
seus objetivos teológicos e políticos.
Airton José da Silva, professor de Antigo Testamento do
Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto (SP), resume a situação:
"O Moisés da Bíblia é
claramente 'construído'. Pode até ter existido um Moisés lá
no passado que inspirou o dos textos, mas nada sabemos dele com segurança.
Data-limite
Os pesquisadores dispõem há muitos anos do que parece ser a
data-limite para o fim do Êxodo. Trata-se de uma estela (uma espécie de coluna
de pedra) erigida pelo faraó Merneptah pouco antes do ano 1200 a.C. A chamada
estela de Merneptah registra uma série de supostas vitórias do soberano egípcio
sobre territórios vizinhos, entre eles os de Canaã. E o povo de Moisés é
mencionado laconicamente: "Israel está destruído, sua semente não existe
mais". Não se diz quem liderava Israel nem que regiões eram abrangidas por
seu território. Trata-se da mais antiga menção aos ancestrais dos judeus fora
da Bíblia.
Inscrição em hieróglifos feita sob ordem do faraó Merneptah pouco antes de 1200 a.C. Esse trecho do texto diz: "Israel está destruído, sua semente não existe mais" (Foto: Reprodução). |
Se a saída dos israelitas do Egito ocorreu, ela precisaria
ter acontecido antes disso. A Bíblia relata que, cerca de 400 anos antes de
Moisés, os ancestrais do povo de Israel, liderados pelo patriarca Jacó,
deixaram seu lar na Palestina e se estabeleceram no norte do Egito, junto à
parte leste da foz do rio Nilo. Os egípcios teriam permitido esse assentamento
porque, na época, o mais importante funcionário do faraó era José, filho de
Jacó. Décadas mais tarde, um novo faraó teria ficado insatisfeito com o crescimento
populacional dos descendentes do patriarca e os transformado em escravos.
Por algum tempo, arqueólogos e historiadores acharam que
haviam identificado evidências em favor dos elementos básicos dessa trama. É
que, por volta do ano 1700 a.C., a região da foz do Nilo foi dominada pelos
chamados hicsos, uma dinastia de soberanos originários de Canaã e de etnia
semita, tal como os israelitas. (O nome "Jacó", muito comum na época,
está até registrado entre nobres hicsos.)
Pouco mais de um século mais tarde, os egípcios expulsaram a
dinastia estrangeira de suas terras. Isso mataria dois coelhos com uma cajadada
só. Explicaria a ascensão meteórica de José na burocracia egípcia, graças à
proximidade étnica com os hicsos, e também por que seus descendentes foram
escravizados -- eles teriam sido associados à ocupação estrangeira no Egito.
O problema com a ideia, no entanto, é que não há nenhuma
menção aos israelitas ou a José e sua família em documentos egípcios ou de
outros reinos do Oriente Médio nessa época. Pior ainda, até hoje não foi
encontrado nenhum sítio arqueológico no Sinai que pudesse ser associado aos 40
anos que os israelitas teriam passado no deserto depois de deixar o Egito.
O mosteiro de Santa Catarina, no Sinai, é tradicionalmente identificado com o local onde Moisés teve seu encontro com Javé (Foto: Reprodução). |
Os textos egípcios também não falam em nenhum momento da
fuga liderada por Moisés, se é que ela ocorreu. "Isso é um problema grave.
O argumento de que os egípcios não registravam derrotas é falso: a saída de um
pequeno grupo nem era um revés, e eles relatavam derrotas sim, mesmo quando
diziam que tinha sido um empate", afirma Airton José da Silva.
Apiru = hebreus?
Para Milton Schwantes, professor da Faculdade de Filosofia e Ciências da Religião
da Universidade Metodista de São Paulo, outro problema com a ligação entre os
israelitas e os hicsos é dar ao Êxodo uma dimensão muito mais grandiosa do que
seria razoável esperar do evento. "É uma cena de pequeno porte -- estamos
falando de grupos minoritários, de 150 pessoas fugindo pelo deserto. Em vez do
exército egípcio inteiro perseguindo essa meia dúzia de pobres e sendo engolido
pelo mar, o que houve foram uns três cavalos afundando na lama", brinca
Schwantes.
Ele é menos pessimista em relação aos possíveis elementos de
verdade histórica na narrativa do Êxodo. Os israelitas são freqüentemente
chamados de "hebreus" nesse livro da Bíblia, uma mistura de
nomenclaturas que deixou os estudiosos com a pulga atrás da orelha.
Documentos
do Oriente Médio datados (grosso modo) entre 2000 a.C. e 1200 a.C., porém,
falam dos habiru ou apiru -- grupos que parecem ter vivido às margens da
sociedade, atuando como trabalhadores migrantes, escravos, mercenários ou
guerrilheiros.
"Ou seja, os hebreus talvez não fossem um grupo étnico,
mas uma categoria social, de pessoas que muitas vezes eram forçadas a
participar de grandes construções no Egito, sem receber o necessário para o seu
sustento", afirma Schwantes. Ele também vê sinais de memórias históricas
antigas nos nomes de algumas cidades egípcias mencionadas na narrativa do Êxodo
-- lugares que foram ocupados por um período relativamente curto de tempo, por
volta de 1200 a.C.
"O próprio nome de Moisés é um nome egípcio que os
israelitas não entenderam", diz Schwantes. Parece ser a terminação
"-mses" presente em nomes de faraós como Ramsés e quer dizer
"nascido de" algum deus -- no caso de Ramsés, "nascido do deus
Rá". No caso do líder dos israelitas, falta a parte do nome referente ao
deus.
Mar: Vermelho ou de
Caniços?
O momento mais famoso da saída dos israelitas do Egito é o
confronto entre Moisés e o exército egípcio no Mar Vermelho, quando, por ordem
de Deus, o profeta abre as águas para seu povo passar e as fecha para engolir
os homens do faraó. No entanto, é possível que a história original tenha se
referido não a águas oceânicas, mas a um pântano.
Explica-se: o sentido original do hebraico Yam Suph,
normalmente traduzido como "Mar Vermelho", parece ser "Mar de
Caniços", ou seja, uma área cheia dessas plantas típicas de regiões
lacustres. Assim, nas versões originais da lenda, afirmam estudiosos do texto
bíblico, os "carros e cavaleiros" do Egito teriam ficado presos na
lama de um grande pântano, enquanto os fugitivos conseguiam escapar. Conforme a
tradição oral sobre o evento se expandia, os acontecimentos milagrosos
envolvendo a abertura de um mar de verdade foram sendo adicionados à história.
O dado mais importante sobre a dimensão real do Êxodo, no
entanto, talvez venha da Palestina. Israel Finkelstein, arqueólogo da
Universidade de Tel-Aviv, em Israel, conta que uma série de novos assentamentos
associados às antigas cidades israelitas aparecem na Palestina por volta da
mesma época em que a estela de Merneptah foi erigida. Acontece que a cultura
material -- o tipo de construções, utensílios de cerâmica etc. -- desses
"israelitas" é idêntica à que já existia em Canaã antes de esses
assentamentos surgirem. Tudo indica, portanto, que eles seriam colonos nativos
da região, e não vindos de fora.
Para Finkelstein, isso significa que a história do Êxodo foi
redigida bem mais tarde, por volta do século 7 a.C. O confronto com o Egito
teria sido usado como forma de marcar a independência dos israelitas em relação
aos vizinhos, que estavam tentando restabelecer seu domínio na Palestina. A
figura de Moisés, talvez um herói quase mítico já nessa época, teria sido
incorporada a essa versão da origem da nação.
Reinaldo José Lopes...
Fonte da pesquisa: http://g1.globo.com/Noticias/0,,MUL418821-9982,00-MOISES+PODE+NAO+TER+EXISTIDO+SUGERE+PESQUISA+ARQUEOLOGICA.ht
Nosso objetivo é
buscar o máximo de informações a respeito do (Mito Moises).
Estaremos trazendo sempre que possível mais evidencias desse (Mito).
República Ateia
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