Os Quatro Cavaleiros do Novo Ateísmo
Os Quatro Cavaleiros do Novo Ateísmo |
Novo Ateísmo é o nome dado ao conjunto de ideias promovidas
por um grupo de escritores ateístas contemporâneos, os quais sustentam a visão
de que a religião não deve ser simplesmente tolerada, mas sim contraposta,
criticada e exposta mediante o uso de argumentos racionais, sempre que suas
influências sejam identificadas.
A expressão é associada com frequência aos indivíduos conhecidos
como Os Quatro Cavaleiros do Novo Ateísmo, grupo informal que compreende o
etologista britânico Richard Dawkins
Richard Dawkins |
Os diversos livros publicados entre 2004 e 2007 por estes
autores servem como parte da base das discussões do Novo Ateísmo. Tudo começou
com os ataques de 11 de setembro de 2001 às Torres Gêmeas.
Ecoando a ideia de que o islamismo foi o principal
responsável pelo ataque, Sam Harris se sentiu motivado a publicar em 2004 a
obra A Morte da Fé, que rapidamente se transformou num dos livros mais vendidos
dos Estados Unidos e inaugurou uma série de publicações do mesmo gênero.
Neste livro, Harris também ataca o cristianismo e o
judaísmo, e apresenta uma ampla coleção de críticas a todos os estilos de
crença religiosa. Chega a afirmar que os nazistas foram agentes religiosos
cristãos quando exterminaram milhões de judeus. Dois anos mais tarde, Harris
publicou Carta à Uma Nação Cristã, onde tece ainda mais críticas ao
cristianismo.
Daniel Dennett |
Um dos maiores propagandistas de Sam Harris foi o famoso
Richard Dawkins, sempre empenhado em disseminar o conflito entre a ciência e a
religião. Ele é o autor do livro Deus, um Delírio, publicado em 2006, e que
permaneceu por quase um ano inteiro na lista dos mais vendidos no jornal
norte-americano New York Times.
Dawkins construiu uma carreira científica brilhante, e
graças ao seu intelecto robusto garantiu espaço para divulgar suas ideias sobre
ciência, educação, sociedade e religião, reforçando sempre a necessidade da
diminuição do papel da religião na sociedade e do aumento do papel da ciência.
Sua defesa contundente do darwinismo lhe rendeu a alcunha de Rottweiler de
Darwin.
Sam Harris |
Mais elegante é o estilo do neoconservador Christopher
Hitchens, um dos maiores apoiadores da Guerra do Iraque, polêmico pelas
inúmeras críticas realizadas, especialmente à Madre Teresa de Calcutá, a qual
chamou de oportunista política, afirmando que Teresa somente adotou a imagem
caracterizada pela pobreza e pela santidade para poder usá-la de modo a
alcançar seus propósitos financeiros.
Um de seus principais argumentos consiste em que a ideia de
Deus é absolutamente totalitária e responsável pela destruição da liberdade
individual. Hitchens é autor do livro Deus Não É Grande, publicado em 2007,
onde afirma que as religiões organizadas são violentas, irracionais,
intolerantes, racistas e incentivam o fanatismo, e propõe que as religiões
desempenhem um papel menos proeminente na sociedade.
Já o cientista Daniel C. Dennett faz esforços para quebrar a
ideia de que a religião não pode ser analisada pela ciência, deixando de lado a
fúria para destruir a crença religiosa e as próprias religiões. Seu livro
Quebrando o Encanto: A Religião Como Fenômeno Natural, publicado em 2006,
procura tratar da religião como um fenômeno natural e apontar as razões
evolutivas para a aderência dos indivíduos às religiões.
Os escritos dos Novos Ateístas procuram lidar de forma
científica com o conceito de Deus, ao contrário da maioria dos velhos ateístas,
que partiam do princípio de que a ciência deveria ser indiferente à religião e
aos conceitos sobrenaturais que a compõem. Richard Dawkins sugere que a
hipótese de Deus é uma hipótese científica válida, pois como qualquer hipótese,
ela pode ser testada, comprovada ou rejeitada.
Christopher Hitchens |
Mesmo assim, os Novos Ateístas se antecipam e afirmam que o
naturalismo é suficiente para explicar tudo o que seja observável na natureza,
incluindo as mais distantes galáxias, a origem da vida e das espécies e até
mesmo os processos que ocorrem no interior de estruturas delicadas, como o cérebro
humano, e microscópicas, como o átomo.
Desta forma, excluem por completo a necessidade de qualquer
elemento sobrenatural para que qualquer coisa pertencente à realidade
observável do universo seja entendida. A hipótese de Deus ainda é descartada
através da ideia muito comum ao Novo Ateísmo, onde a ausência de evidência é
evidência da ausência, pois se algo existe é de se esperar que seja evidenciado
uma hora ou outra, desta ou daquela maneira.
A insistência em classificar os dogmas religiosos como hipóteses
que poderiam e deveriam ser testadas colabora com a pretensão de desautorizar a
ideia dos domínios não-interferentes, a qual afirma a existência de domínios
separados para a ciência e para a religião, e que em cada domínio, uma e outra
possuem a autoridade e as ferramentas apropriadas para elaborar discursos e
conclusões coerentes.
Assim, a ciência limitaria suas ações ao mundo empírico,
enquanto a religião limitaria suas ações às questões de significado existencial
e valores morais. Para os Novos Ateístas, a ciência estaria em desvantagem
histórica, pois como afirma Richard Dawkins, as religiões abraâmicas vêm
lidando há milênios com assuntos científicos. É chegada a hora do contra-ataque
e da vingança?
O proponente da ideia, o historiador, paleontologista e
biólogo Stephen Jay Gould, acaba redefinindo a religião como uma espécie de
filosofia moral, algo que na visão gnóstica é o menos essencial em uma
religião. Para os gnósticos, as religiões são expressões temporais da Gnosis, a
experiência transcendente e direta de conhecimento de Deus e seus Mistérios.
Os códigos morais que acabam sendo inseridos nas religiões
nada têm a ver com a essência e com o propósito final das próprias religiões.
Confinar as religiões às suas propostas de conduta soa para o gnosticismo tão
absurdo quanto querer submeter a divindade a testes de laboratório, ou ainda
afirmar que a ciência é capaz de observar a origem da vida e a formação de
novas espécies.
É interessante notar que o Novo Ateísmo não é, na verdade,
algo novo. Como afirmou o humanista Thomas Flynn em sua coluna Porque Eu Não
Acredito no Novo Ateísmo, a única novidade que existe é a publicação de
material ateísta por grandes editoras, sua leitura por milhões de pessoas e sua
aparição nas listas de mais vendidos. Aqui no Brasil, acrescente-se à lista a
proliferação de youtubers ateus polêmicos, como o Pirulla25, o Yuri Grecco, o
Tomishiyo e outros.
Fonte: http://www.overmundo.com.br
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